Filosofia medieval
A
filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental e do Oriente
Médio durante a Idade
Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do Império Romano e
encerra-se com a Renascença.
A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia
greco-romana e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento
secular e a doutrina sagrada.
A
Idade Média carregou por muito tempo o epíteto depreciativo de "idade das
trevas", atribuído pelos humanistas renascentistas;
e a filosofia desenvolvida nessa época padeceu do mesmo desprezo. No entanto,
essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo período de
desenvolvimento filosófico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Gracia defende
que “em intensidade, sofisticação e aquisições, pode-se corretamente dizer que
o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a época áurea da
filosofia grega no século IV a. C.”
Entre
os principais problemas discutidos nessa época estão a relação entre fé e
razão, a existência e unidade de Deus, o objeto da teologia e da metafísica, os
problemas do conhecimento, dos universais e da individualização.
Entre
os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque Agostinho de Hipona,
Boécio, Anselmo de
Cantuária, Pedro
Abelardo, Roger Bacon,
Boaventura de
Bagnoregio, Tomás
de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham
e Jean Buridan; na
civilização islâmica, Avicena
e Averrois;
entre os judeus, Moisés Maimônides.
Tomás
de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência
inigualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande
importância à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a
doutrina cristã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino
representou uma reorientação significativa do pensamento filosófico medieval,
até então muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação
agostiniana.
Filosofia do Renascimento
A
transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada
pelo Renascimento e
pelo Humanismo. Nesse período de transição, a redescoberta de
textos da Antiguidade contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos
estudos técnicos de lógica,
metafísica e teologia e se voltasse para
estudos ecléticos nas áreas da filologia,
da moralidade e do misticismo. Os estudos dos
clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e desenvolveram-se de modo
independente da escolástica
tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de
ser uma exclusividade das universidades e dos acadêmicos profissionais, e isso
contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e
da religião, o conceito de homem assume o centro das ocupações artísticas,
literárias e filosóficas.
O
renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à
compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção está
presente nos trabalhos de Nicolau
de Cusa, Giordano
Bruno, Bernardino
Telesio e Galileu
Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos,
de um intenso interesse por magia,
hermetismo e astrologia – considerados
então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.
À
medida que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco
dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as
rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não
apenas soluções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre
questões pertinentes à filosofia política.
Desse modo, a filosofia política, que por vários séculos esteve dormente,
recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as
obras de Nicolau
Maquiavel e Jean Bodin.
Filosofia moderna
A
filosofia moderna é caracterizada pela preponderância da epistemologia sobre a metafísica. A
justificativa dos filósofos modernos para essa alteração estava, em parte, na
ideia de que, antes de querer conhecer tudo o que existe, seria conveniente
conhecer o que se pode conhecer.
Geralmente
considerado como o fundador da filosofia moderna, o cientista, matemático e
filósofo francês René
Descartes (1596-1650) redirecionou o foco da discussão filosófica para o
sujeito pensante. O projeto de Descartes era o de assentar o edifício do
conhecimento sobre bases seguras e confiáveis. Para tanto, acreditava ele ser
necessário um procedimento prévio de avaliação crítica e severa de todas as
fontes do conhecimento disponível, num procedimento que ficou conhecido como dúvida metódica. Segundo Descartes, ao adotar
essa orientação, constatamos que resta como certeza inabalável a ideia de um eu
pensante: mesmo que o sujeito ponha tudo em dúvida, se ele duvida, é porque
pensa; e, se pensa, é porque existe. Essa linha de raciocínio foi celebrizada
pela fórmula “penso, logo existo” (cogito ergo sum). A
partir dessa certeza fundamental, Descartes defendia ser possível deduzir
rigorosamente, ao modo de um geômetra, outras verdades fundamentais acerca do
sujeito, da natureza do conhecimento e da realidade.
No
projeto cartesiano estão presentes três pressupostos básicos: (1) a matemática, ou o método dedutivo
adotado pela matemática, é o modelo a ser seguido pelos filósofos; (2) existem
ideias inatas, absolutamente verdadeiras, que de alguma forma estão desde
sempre inscritas no espírito humano; (3) a descoberta dessas ideias inatas não
depende da experiência – elas são alcançadas exclusivamente pela razão. Esses
três pressupostos também estão presentes nas filosofias de Gottfried Leibniz
(1646-1716) e Baruch Spinoza (1632-1677), e constituem a base do
movimento filosófico denominado racionalismo.
Se
os racionalistas priorizavam o modelo matemático, a filosofia antagônica – o empirismo – enfatizava os métodos
indutivos das ciências experimentais. O filósofo John Locke (1632-1704)
propôs a aplicação desses métodos na investigação da própria mente humana. Em
patente confronto com os racionalistas, Locke argumentou que a mente chega ao
mundo completamente vazia de conteúdo – é uma espécie de lousa em branco ou tabula rasa; e todas as
ideias com que ela trabalha são necessariamente originárias da experiência.
Esse pressuposto também é adotado pelos outros dois grandes filósofos do
empirismo britânico, George
Berkeley (1685-1753) e David
Hume (1711-1776).
As
ideias do empirismo inglês também se difundiram na França; e o entusiasmo com
as novas ciências levou os intelectuais franceses a defender uma ampla reforma
cultural, que remodelasse não só a forma de se produzir conhecimento, mas
também as formas de organização social e política. Esse movimento amplo e
contestatório ficou conhecido como Iluminismo. Os filósofos
iluministas rejeitavam qualquer forma de crença que se baseasse apenas na
tradição e na autoridade, em especial as divulgadas pela Igreja Católica.
Um dos marcos do Iluminismo francês foi a publicação da Encyclopédie.
Elaborada sob a direção de Jean le
Rond d’Alembert e Denis
Diderot, essa obra enciclopédica inovadora incorporou vários dos valores
defendidos pelos iluministas e contou com a colaboração de vários de seus nomes
mais destacados, como Voltaire,
Montesquieu
e Rousseau.
Em
1778, Immanuel Kant
publicou a sua famosa Crítica da
Razão Pura, em que propõe uma espécie de síntese entre as teses
racionalistas e empiristas. Segundo Kant, apesar de o nosso conhecimento
depender de nossas percepções sensoriais, essas não constituem todo o
nosso conhecimento, pois existem determinadas estruturas do sujeito que as
antecedem e tornam possível a própria formação da experiência. O espaço, por
exemplo, não é uma realidade que passivamente assimilamos a partir de nossas
impressões sensoriais. Ao contrário, somos nós que impomos uma organização
espacial aos objetos. Do mesmo modo, o sujeito não aprende, após inúmeras
experiências, que todas as ocorrências pressupõem uma causa; antes, é a
estrutura peculiar do sujeito que impõe aos fenômenos uma organização de causa
e efeito. Uma das consequências da filosofia kantiana é estabelecer que as coisas em si
mesmas não podem ser conhecidas. A fronteira de nosso conhecimento é
delineada pelos fenômenos, isto é, pelos resultados da interação da
realidade objetiva com os esquemas cognitivos do sujeito.
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